quarta-feira, 29 de julho de 2009

A primeira casa - Hillary & Nancy, Maggie...Penny

Em uns 4 meses de co-residência, tive dois diálogos com Hillary.
Um sobre a castração da Penny, outro sobre o serial killer suicida de Virginia.
O primeiro durou uns 10 minutos; o segundo foi mais curto.
Concluímos que eu deveria me mudar de lá.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A primeira casa. Parte 1: Hillary & Nancy, Maggie ou Cindy


Morei em três casas no ano de 2007. Na primeira, com Hillary e sua gata, Nancy, Maggie ou Cindy, não lembro. Cresci nojo à fidelidade canina. Acolhia a gata, que vinha ao meu quarto quando a dona não estava, como se fosse minha a necessidade de acariciar seus pêlos sebentos, coçar-lhe a cabeça até soltar um tipo de caspa. Às vezes era eu quem antecipava nossos encontros. Gostava de arrancá-la quente e zonza debaixo da coberta da cama da dona, de interrompê-la no bom do sono matinal de inverno, quando ficávamos a sós. Fazia fotos de nós duas abraçadas, fungava sua nuca tentando adivinhar se a dona sentiria nela o meu cheiro. Depois comecei a introduzir terceiros, como o demônio russo por quem Nancy, Maggie ou Cindy se deixava provocar. O demônio marcava cadência voando e pousando patas e cauda de ferro nas taboas do chão, mas a dança era ela. Um dia botei pra dentro um gato da rua e olhei. Não houve dança, só um mijo de pavor por debaixo da gata. Enxotei o gato, guardei o demônio, deixei a gata.

terça-feira, 21 de julho de 2009

mulher desaparecida

pêlo laranja, apresentando nos pés dedos mindinhos encavalados
não trazia coleira
atende por dh
gratifica-se bem
cachorro doente

banana, por exemplo

H: "banana, por exemplo; todo dia eu como; aquele potássio todo, sabe? os chimpanzés comem muita banana e ficam pulando pela floresta, ágeis, rijos, é, eu penso em tudo isso"
M: "então tenho que comer menos cenoura"

edipiano

M1: "como é bonito esse concerto de violino"
M2: "não é de violino, mãe; é de piano"

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sobre "No Country for Old Men"

"No Country For Old Men" é o oposto do "the Searchers", de 1956 (Rastros de Ódio, baseado no romance de Alan Le May), da dupla Ford/Wayne e geralmente indicado como um dos dez de todos os tempos. Por que? Em "the Searchers", tanto John Wayne como seu adversário, o chefe índio "Scar", representado por Henry Brandon, são homens em permanente missão. O filme de Ford começa com o solitário Wayne recém retornado da guerra de secessão e termina com Wayne saindo em busca de uma nova missão, depois de ter cumprido aquela que lhe tomara alguns anos, de resgatar sua sobrinha Natalie Wood das mãos de Scar. No encontro amistoso entre Wayne e Scar/Brandon, presenciamos um entendimento mútuo entre amigo e inimigo, observamos que partilham de uma certa ética (Ford simboliza o paralelismo ético entre os lados ao fazer com que Wayne e Brandon se revezem num mesmo comentário sarcástico). E isso deve ser assim já que se trata de uma batalha em que os dois lados partem de motivos "legítimos" porque românticos; motivos transformáveis em propaganda. A batalha é parte necessária do processo de formação da identidade mítica: o americano é por negação a uma outra coisa que também é, como um soviético, um índio, etc. Na trilha de Griffith, Searchers é parte da formação do mito romântico da identidade do povo americano. O fundamental para a vitalidade do processo de formação de identidade é que nós e os outros sejamos algo, como produto do contraste com uma constante reinvenção do inimigo. Já em "No Country for Old Men", a estética de Western nos ludibria. Esperamos algo que não acontece. O título do romance adaptado de Cormac McCarthy, emprestado do poema de Yeats "Sailing to Byzantium", já é uma concessão: esse país não é aquele do mito. Apoderar-se de U$2,4 milhões provenientes de tráfico de heroína não é um problema. Na terra das oportunidades, construída sobre um senso frouxo a respeito da moralidade das conquistas, a origem não contamina o resultado. Conquistar e realizar-se em conquistas individuais ("you're so accomplished!") é um dever para o americano mítico, um dever que os une. O problema surge quando nosso "herói" adivinhado, Llewelyn Moss (Josh Brolin) erra ao acertar. John Wayne jamais voltaria ao campo de batalha para dar de beber a um índio moribundo. John Wayne não corre riscos: disposto a abandonar a sobrinha aos índios, o "let's go home, Debbie" só vem depois de se certificar de que ela é conosco. Mas a questão principal é que em "No Country" o mito se esfacela como numa comédia de erros às avessas e nada une ninguém. Nada é. Se em "the Searchers" a cavalaria montada chega na hora certa e é efetiva no suporte a Wayne, aqui o sheriff Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) acompanha à distância a caçada entre Llewelyn Moss e Chigurh (Javier Bardem). Trata-se de um sheriff cansado, mortal, piedoso e contemplativo, que anseia pela aposentadoria. Alguém que seguiu a profissão mais por inércia de tradição familiar do que por vocação pessoal – e que sempre chega depois. Diferentemente do que ocorre entre John Wayne e o chefe Scar, Llewelyn e Chigurh não guardam paralelismo ético: Llewelyn é herói fracassado que morre pelo caminho, enquanto que Chigurh é psicopata; vazio de propósitos e inabalável, nada o detém. Nesse filme que se constrói em uma longa seqüência de frustrações ao espectador que anseia por um sentido moralizador, a violência desempenha uma função curiosa, que é a de inebriar o espectador em relação à "desmensagem". Dizer que o cinema traz "violência gratuita" é errar o ponto, porque a violência no cinema é um veículo para exorcismo de "demônios", ao acatarmos como nossos os "demônios" dados pelo filme, o que fazemos como parte do pacto de espectadores. Geralmente, a violência nos indica o alvo e mobiliza. Mas em "No Country" a violência desindica e desmobiliza. Experimente contar a um garotinho americano a sinopse do filme. Suspeito que ele, mais espertamente do que muitos adultos que assistiram ao filme, irá reclamar a ausência da conclusão heróica. Porque sem o expediênte da violência, o menino enxerga o que há "de errado" com a história. O excesso de violência me incomodou, mas arrisco sugerir que foi este mesmo o propósito: dividir o público entre os que se frustraram e não sabem por quê (e eventualmente ainda acharam que a violência foi pouca) e aqueles que se incomodam com o inebriamento pela violência e se alegram ao verem mitos em erosão e coisas que não são.

terça-feira, 30 de junho de 2009

membrana como órgão vestigial aparente

se ao menos eu tivesse uma membrana como órgão vestigial aparente
e se a minha membrana como órgão vestigial aparente infeccionasse
o primeiro espinho de cacto me aliviava
e se num banho de rio me cobrassem a razão do mutilamento
envergonhada eu inventava um Chamado-no-transe-da-dor
e criava um deus

Dilemas de uma atriz enquanto goza

A atriz quando faz uma das fadinhas a serviço de Titânia só é a fadinha porque aprende da fadinha a jogar gotas mágicas de orvalho sobre os olhos de alguém que dorme.

Pensar em jogar gotas mágicas de orvalho sobre os olhos de alguém que dorme é ter nostalgia do palco em que se era uma das fadinhas a serviço de Titânia.

Mas a atriz quando faz a mulher-que-goza só faz cara de mulher que goza porque aprende da mulher-que-goza a fazer cara de gozo?

Ou a atriz goza diferente?

Qual é o retrato da atriz enquanto goza?

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